segunda-feira, 3 de março de 2014

Fazendeiros, ONG e frigorífico firmam parceria para produzir carne de forma eficiente na Amazônia sem degradar o bioma


Celso Crespin Bevilaqua, ex-dentista de 57 anos, hoje pecuarista em tempo integral no município de Alta Floresta, encravado no extremo norte de Mato Grosso e próximo à divisa com o Pará, é símbolo das mudanças profundas e aceleradas que estão ocorrendo numa área desmatada da Amazônia. Presidente do Sindicato Rural, ele ganhou confiança e liderança no campo e colocou esses trunfos a serviço de uma empreitada pioneira: ajudou a conectar uma organização não governamental (ICV) a fazendeiros e à indústria da carne (Frigorífico JBS), façanha impensável há poucos anos, quando o antagonismo impedia que uma simples conversa fosse entabulada.

Bevilaqua é um dos avalistas da parceria que implantou um ambicioso projeto de produção de carne a pasto de forma rentável em Alta Floresta, respeitando regras ambientais rígidas. “A ênfase é numa economia de baixa emissão de carbono servindo de referência para os elos da cadeia da carne bovina”, explica ele. Os primeiros resultados começaram a ser conhecidos e se revelaram promissores, segundo vários produtores entrevistados.
Foi afastada, portanto, nesse caso, a antipatia histórica entre ONGs, produtores e frigorífico. O motivo: um possível avanço horizontal das milionárias lavouras de grãos, como milho e soja, sobre o espaço ocupado pela pecuária, aliado à urgência de modernização da atividade visando melhorar a produtividade e a qualidade da carne.

Segundo números do Instituto Centro de Vida (ICV), entidade de Cuiabá responsável pela implantação do Projeto Pecuária Integrada de Baixo Carbono em dez fazendas de Alta Floresta, a agricultura não é o forte do município, cujos pastos abrigam 840 mil cabeças de gado, quarto maior rebanho de Mato Grosso. Mas as lavouras espreitam a apenas 300, 400 quilômetros dali, em cidades como Sorriso, Sinop e Lucas do Rio Verde. Por enquanto, elas até favorecem a pecuária de Alta Floresta, ao tornar mais barata a comida do boi, por conta da distância curta, que barateia o frete. Mês passado, a saca de milho era vendida a menos de R$ 10 por lá. No Sul, valia R$ 24. “Mas a pecuária terá de se verticalizar, tornar-se eficiente, competitiva e buscar qualidade sem abrir novas áreas. É questão de sobrevivência”, enfatiza Vando Telles de Oliveira, de 32 anos, gestor do projeto.

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